Isso vai mudar totalmente a sua vida
Estou almoçando com uma amiga quando ela casualmente conta que ela e o marido estão pensando em "começar uma família".
"Estamos fazendo uma pesquisa", diz, meio brincando. "Você acha que devemos ter um bebê?"
"Isso vai mudar totalmente a sua vida", digo com cuidado, mantendo o tom neutro da voz.
"Eu sei", ela diz. "Nada mais de acordar tarde no sábado, nem de tirar férias quando quiser..."
Mas não era bem isso o que eu queria lhe dizer. Olhava para minha amiga, tentando decidir o que falar.
Queria lhe contar das coisas que não vai aprender num curso para grávidas. Quero que saiba que as dores do parto passam, mas tornar-se mãe vai deixar nela uma vulnerabilidade irreversível.
Penso em avisá-la de que jamais lerá novamente sobre uma tragédia no jornal sem se perguntar: "E se tivesse sido meu filho?" Que todo acidente aéreo, todo incêndio vai assustá-la. Quando vir fotos de crianças famintas, ela se perguntará se pode haver dor maior do que ver um filho morrer.
Olho para ela: unhas e cabelos impecáveis, vestido elegante. Por mais sofisticada que possa ser, tornando-se mãe estará reduzida ao estágio primitivo de uma ursa protegendo seu filhote. Um grito aflito de "Mamãe!" vai fazê-la derrubar o suflê ou seu cristal mais fino sem a menor hesitação.
Acho que deveria avisá-la de que, não importa quantos anos tenha investido em sua carreira, esta será afetada pela maternidade. Mesmo que tenha uma babá super-eficiente, na hora de uma reunião importante vai pensar no cheirinho gostoso do seu bebê ou na febre da véspera. Terá de usar toda sua disciplina para não correr para casa só para ver se está tudo bem com a criança.
Quero que minha amiga saiba que suas grandes certezas vão ser abaladas. Que a vontade de um menino ir ao banheiro dos homens e não ao das mulheres na lanchonete vai tornar-se um grande dilema. Que exatamente lá, no meio do barulho das bandejas e da gritaria das crianças, libelos sobre independência e identidade sexual serão confrontados com a possibilidade de alguém molestar a criança no banheiro. Embora seja uma mulher determinada no escritório, vai sempre se questionar como mãe.
Olhando para minha amiga tão bonita, quero assegurar-lhe que a vida, agora tão importante, terá menos valor para ela quando vier o bebê. Ela sacrificaria sua vida para poupar a do filho, mas ao mesmo tempo vai querer viver mais - não para realizar seus sonhos, mas para ver a criança realizar os dela.
A relação com seu marido vai mudar, mas não como ela pensa. Um dia ela irá descobrir que se pode amar ainda mais um homem ao vê-lo passar cuidadosamente talco no bebê ou ao observá-lo sentado no chão brincando com o filho. Penso que ela deveria saber que vai se apaixonar de novo pelo marido, mas por razões que agora consideraria muito pouco românticas.
Gostaria que pudesse perceber o elo que passará a ter com as mulheres que, através dos tempos, tentaram desesperadamente lutar contra as guerras e impedir que as pessoas dirijam depois de beber. Espero que ela entenda por que eu posso pensar racionalmente sobre muitos assuntos, mas me torno temporariamente louca quando discuto a ameaça de guerra nuclear para o futuro dos meus filhos.
Quero descrever à minha amiga o milagre que é uma criança dando seus primeiros passos, conseguindo expressar toscamente em palavras seus sentimentos, juntando as letras numa frase. A alegria que nos inunda ao ouvir uma gargalhadinha gostosa, ao ver seu filho acertando a bola no gol, a filha mergulhando corajosamente do trampolim mais alto.
O olhar curioso da minha amiga me fez perceber que tenho lágrimas nos olhos. "Você nunca vai se arrepender", digo, finalmente. Estendo o braço por sobre a mesa, aperto sua mão e rezo em sua intenção e de todas as mulheres que, no meio do seu caminho, se depararam com o mais sublime dos chamados.
"Estamos fazendo uma pesquisa", diz, meio brincando. "Você acha que devemos ter um bebê?"
"Isso vai mudar totalmente a sua vida", digo com cuidado, mantendo o tom neutro da voz.
"Eu sei", ela diz. "Nada mais de acordar tarde no sábado, nem de tirar férias quando quiser..."
Mas não era bem isso o que eu queria lhe dizer. Olhava para minha amiga, tentando decidir o que falar.
Queria lhe contar das coisas que não vai aprender num curso para grávidas. Quero que saiba que as dores do parto passam, mas tornar-se mãe vai deixar nela uma vulnerabilidade irreversível.
Penso em avisá-la de que jamais lerá novamente sobre uma tragédia no jornal sem se perguntar: "E se tivesse sido meu filho?" Que todo acidente aéreo, todo incêndio vai assustá-la. Quando vir fotos de crianças famintas, ela se perguntará se pode haver dor maior do que ver um filho morrer.
Olho para ela: unhas e cabelos impecáveis, vestido elegante. Por mais sofisticada que possa ser, tornando-se mãe estará reduzida ao estágio primitivo de uma ursa protegendo seu filhote. Um grito aflito de "Mamãe!" vai fazê-la derrubar o suflê ou seu cristal mais fino sem a menor hesitação.
Acho que deveria avisá-la de que, não importa quantos anos tenha investido em sua carreira, esta será afetada pela maternidade. Mesmo que tenha uma babá super-eficiente, na hora de uma reunião importante vai pensar no cheirinho gostoso do seu bebê ou na febre da véspera. Terá de usar toda sua disciplina para não correr para casa só para ver se está tudo bem com a criança.
Quero que minha amiga saiba que suas grandes certezas vão ser abaladas. Que a vontade de um menino ir ao banheiro dos homens e não ao das mulheres na lanchonete vai tornar-se um grande dilema. Que exatamente lá, no meio do barulho das bandejas e da gritaria das crianças, libelos sobre independência e identidade sexual serão confrontados com a possibilidade de alguém molestar a criança no banheiro. Embora seja uma mulher determinada no escritório, vai sempre se questionar como mãe.
Olhando para minha amiga tão bonita, quero assegurar-lhe que a vida, agora tão importante, terá menos valor para ela quando vier o bebê. Ela sacrificaria sua vida para poupar a do filho, mas ao mesmo tempo vai querer viver mais - não para realizar seus sonhos, mas para ver a criança realizar os dela.
A relação com seu marido vai mudar, mas não como ela pensa. Um dia ela irá descobrir que se pode amar ainda mais um homem ao vê-lo passar cuidadosamente talco no bebê ou ao observá-lo sentado no chão brincando com o filho. Penso que ela deveria saber que vai se apaixonar de novo pelo marido, mas por razões que agora consideraria muito pouco românticas.
Gostaria que pudesse perceber o elo que passará a ter com as mulheres que, através dos tempos, tentaram desesperadamente lutar contra as guerras e impedir que as pessoas dirijam depois de beber. Espero que ela entenda por que eu posso pensar racionalmente sobre muitos assuntos, mas me torno temporariamente louca quando discuto a ameaça de guerra nuclear para o futuro dos meus filhos.
Quero descrever à minha amiga o milagre que é uma criança dando seus primeiros passos, conseguindo expressar toscamente em palavras seus sentimentos, juntando as letras numa frase. A alegria que nos inunda ao ouvir uma gargalhadinha gostosa, ao ver seu filho acertando a bola no gol, a filha mergulhando corajosamente do trampolim mais alto.
O olhar curioso da minha amiga me fez perceber que tenho lágrimas nos olhos. "Você nunca vai se arrepender", digo, finalmente. Estendo o braço por sobre a mesa, aperto sua mão e rezo em sua intenção e de todas as mulheres que, no meio do seu caminho, se depararam com o mais sublime dos chamados.
Dale Hanson
1 comentário(s):
Uma história muito interessante
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